bruno_racer escreveu:
Sempre fiquei intrigado sobre como a aerodinâmica afeta nossos automodelos, então fiz alguns testes interessantes:
Como eu sempre voei de aeromodelo (glow), conhecia um programa que qualquer um pode baixar no site da NASA. É um programa para aprendizado sobre como uma asa de avião funciona em determinadas situações.
Para os testes, considerei o seguinte:
Imaginem uma chapa retangular de 1,5 metro de comprimento por 30 centímetros de largura. Usei o formato "chapa" porque era o mais simples de ser compreendido, mas o programa permite experimentar perfis de asa de avião. Os aerofólios de F1, por exemplo, seguem os perfis assimétricos da aviação, só que de ponta-cabeça.
Testei essa "chapa" andando em diversas velocidades diferentes, e depois peguei a mesma chapa na escala 1:10 (ou seja, 150mm por 3mm.
Claro que eu já sabia que os carros 1:10 se comportavam de maneira diferente, afinal, um pan-car com bolha protótipo não vai sair "voando" a 30 km/h caso entre uma "lufada" de ar embaixo de seu chassis (igual aquele vídeo que postaram aqui semana passada). Mas a gente sempre tende a achar que é igual, só que 10x menor, não é verdade? Basta dividir por 10 e boa????
Conclusões:
- A sustentação negativa (ou downforce, como preferirem) muda numa proporção MUITO SEMELHANTE nas escalas 1:1 e 1:10. Ou seja, ajustes de ÂNGULO de aerofólio fazem sentido num R/C da mesma PROPORÇÂO que nas competições 1:1; Porém, acredito que nós não devemos nos preocupar tanto com o ângulo do aerofólio, uma vez que:
- A sustentação negativa (e muito provavelmente o drag, a perda de velocidade) atua de maneira MUITO diferente em um carro 1:1 e 1:10. Um aerofólio na escala 1:10 não tem NADA A VER com um aerofólio de um carro 1:1 numa velocidade proporcionalmente menor à escala. Mesmo em velocidades estúpidas (por exemplo 100 km/h, que seriam 1000 km/h numa escala 10 vezes maior), um R/C sofre forças MUITO inferiores em relação à um carro 1:1, mesmo considerando a escala 10x menor.
Então, o que posso dizer?
É besteira acharmos que uma bolha é melhor que a outra só porque sabemos que um carro 1:1 é melhor que o outro. Por exemplo, se dois carros com o mesmo motor e carrocerias diferentes (na escala 1:1) têm 30 km/h de diferença na velocidade final, isso não vai se aplicar no nosso hobby, nem mesmo considerando a escala 10x menor!!! Não é só dividir por 10, a dinâmica é toda diferente. Um simples pára-brisa de 20 cm inclinado 5 graus diferente de outro não vai fazer diferença perceptível nessa micro-escala (1/10).
Então, quando alguém perder de você e falar que foi porque sua bolha é mais aerodinâmica, é balela! É muito mais psicológico. Talvez exista uma diferença significativa entre uma bolha protótipo e uma bolha de Kombi, mas entre dois sedãs, esqueça. A diferença está mesmo no dedo. Mesmo uma bolha de Ferrari não vai ter diferença perceptível de performance se você trocar por um Opala ou algo assim.
Nota 1: Ah, pra quem falar que o problema está no formato de chapa, eu fiz também os testes com o perfil no formato de asa de avião.
Nota 2: Não estou falando que um aerofólio ou algo assim não faz nenhuma diferença, estou falando que um aerofólio de R/C 10 vezes menor que um aerofólio real NÃO FUNCIONA PROPORCIONALMENTE IGUAL. O dowforce que ele gera é uma merreca, comparado com o carro em escala 1:1.
Nota 3: Mas você pode falar "eu comprei uma bolha mais aerodinâmica e comecei a virar tempos mais rápidos", eu respondo: é igual tomar DORIL com limão, você está pilotando melhor ou a bolha fez mesmo esse milagre?
Meu cunhado é engenheiro de produção e plataformação da Petrobrás. ele atualmente está trabalhando na transformação do navio petroleito, o P-56, para Plataforma de perfuração e armazenamento de petróleo na Bacia de Campos - RJ, bem como trabalhando na plataforma Mexilhão no estaleiro Mauá - RJ. Ele é responsável pelo projeto de adaptação, equilibrio, "aerodinâmica", dutação, tonelagem, etc.
Passei para ele os entendimentos sobre as bolhas dos carros de RC 1/10, levantadas pelo Bruno aqui nesse tópico. Conclusão: Ele concorda com o Bruno.
Pois é. Ele me falou que para a escala que utilzamos (categoria sedan), a força da gravidade atualmente é muito mais a força pendular, ou seja para baixo, do que a força linear ou de resistência. Assim sendo , importa muito mais (o que também não é lá essas coisas) o peso da bolha, o peso do próprio aerofólio e do conjunto todo do que a aerodinãmica dos carrinhos. Já que para o coeficiente de resistência das forças atuantes sobre a matéria, o tamanho x peso x empuxo dos RC 1:10 é praticamente desprezível. Ele exemplificou a grosso modo que seria como se uma formiga caísse do quarto andar de um prédio. Resultado; nada. ela sairia andando normalmente.
Bom, eu viajei um pouco nas explicações dele, me perdoem se transcrevi coisas esquisitas, mas resumir o que ele falou, é sinistro.
Enfim, ele me falou que diferenças existem, mas tão diminutas, que são praticamente desprezíveis. E que estas diferenças só surtiriam efeitos praticos, casos as corridas de RC levassem horas seguidas ininterruptas, ou dependendo do percurso e traçado, até dias.